A Faixa Negra da Indiferença e o Silêncio da Violência

A Faixa Negra da Indiferença: Espiritismo e o Silêncio Diante da Violência

O tempo da neutralidade já passou — é hora de escolher entre a indiferença e a dignidade, entre o comodismo e o compromisso com a vida.

Nota Introdutória

Este texto propõe uma reflexão sobre a ética espírita e o silêncio de muitos espíritas diante da violência institucionalizada que permeia nossa sociedade. Inspirado em análises que discutem a realidade atual, este artigo busca abordar os dilemas éticos e espirituais que nos cercam, convidando a uma coerência entre discurso e prática, fé e ação.

Tempos Sombrios e o Desalinho com o Ideal Espírita

Vivemos tempos sombrios, onde a realidade de violência e injustiça se torna cada vez mais evidente. Desde conflitos em Gaza até a violência nas grandes cidades, observa-se uma faixa negra que marca a indiferença da sociedade. A análise crítica de alguns autores revela um grave desalinhamento entre os princípios do Espiritismo, que pregam fraternidade, justiça e valorização da vida, e as reações de muitos que se dizem espíritas, mas permanecem em silêncio diante dessa realidade.

A Ética Espírita e a Defesa Incondicional da Vida

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, é uma doutrina que não se limita a aspectos filosóficos ou científicos, mas que possui um profundo fundamento ético. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, encontramos a máxima: “Fora da caridade não há salvação”. Essa afirmação é um chamado à ação, que nos convida a uma defesa da vida que não pode ser seletiva.

A caridade, nesse contexto, deve ser entendida como a expressão prática do amor ao próximo, abrangendo até mesmo aqueles que o sistema marginaliza. Não podemos nos calar diante das atrocidades que, travestidas de “ordem pública”, são muitas vezes aceitas sem contestação.

Fraternidade, Justiça e Coerência Moral

Refletindo sobre os ensinamentos de Léon Denis, podemos afirmar que a fraternidade é o alicerce da verdadeira justiça. Reconhecer o princípio divino presente em cada ser humano é o primeiro passo rumo a uma sociedade verdadeiramente espiritualizada. Portanto, o papel do espírita é ativo e comprometido com a transformação social.

O silêncio diante das injustiças não é apenas uma omissão, mas uma forma de consentimento. Ao ignorarmos as violências que ocorrem à nossa volta, estamos, de certa forma, compactuando com elas. Assim, é fundamental que a comunidade espírita se posicione claramente contra as injustiças e a violência.

A Fé Raciocinada como Prática Viva

Defender a vida é um imperativo moral que não deve ser condicionado a critérios de merecimento. A fé raciocinada, que Kardec tanto enfatizou, deve se manifestar em ações concretas, refletindo os ensinamentos de Jesus, que nunca compactuou com a violência. A verdadeira fé é aquela que se traduz em empatia e em ações que promovem a justiça e a paz.

Conclusão: Nem Cruz, Nem Espada — A Consciência como Resposta

É imprescindível que o movimento espírita reencontre sua essência. Cada espírita deve se perguntar: de que lado estou? A fé que não se traduz em compaixão ativa é apenas retórica vazia. O desafio que se impõe é grande, mas é necessário agir em defesa da dignidade humana, escolhendo sempre o lado da vida.

O momento de agir é agora. O tempo da neutralidade já passou — é hora de optar entre a indiferença e a dignidade, entre o comodismo e o compromisso com a vida.

Referências

Denis, L. (2025). “Depois da Morte”. Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB.

Kardec, A. (2003). “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Trad. J. Herculano Pires. 59. Ed. São Paulo: LAKE.

Henrique, M.; Braga, M. “Pilhas, pilhados e pilhérias em um mundo maltrapilho e cheio de contradições”. Disponível em: https://www.comkardec.net.br/pilhas-pilhados-e-pilherias-em-um-mundo-maltrapilho-e-cheio-de-contradicoes-por-marcelo-henrique-e-marcus-braga. Acesso em 31. Out. 2025.

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