Desagravo aos Pretos Velhos e Caboclos
Este artigo visa esclarecer a realidade espiritual da falange dos Pretos Velhos e dos Índios, conhecidos como Caboclos. É fundamental destacar que nossa formação doutrinária e nosso trabalho sempre estiveram alinhados aos conceitos espíritas, sob a orientação de Allan Kardec. Contudo, isso não nos impediu de cultivar amizades com praticantes de Umbanda e de participar de seus trabalhos, embora atualmente, a falta de tempo tenha limitado nossa presença.
É com admiração e profundo carinho que reconhecemos a importância dessas entidades, especialmente as avós espirituais, que transmitem ternura e sabedoria. Em diversas ocasiões, tive a oportunidade de testemunhar a transfiguração de entidades de Pretos Velhos em seres de grande elevação espiritual, sendo o Pai João de Aruanda o que mais me impressionou. Essa experiência me fez refletir seriamente que, ao alcançar um maior nível de evolução espiritual, gostaria de emular sua grandeza.
É essencial ressaltar que não devemos manter preconceitos contra esses veneráveis irmãos. Observamos que, em todas as etnias — brancos, negros e amarelos — existem tanto espíritos bons quanto maus. Usamos o termo etnias, não raças, pois acreditamos que existe uma única raça: a raça humana, homo sapiens sapiens.
Esclarecimento Espiritual
Há mais de trinta e cinco anos, temos nos dedicado ao trabalho de esclarecimento e doutrinação de espíritos desequilibrados e em sofrimento, em nosso grupo, sem plateia. Com segurança, afirmamos que, em sua maioria, os espíritos que assistimos são de brancos. Isso acontece porque muitos desencarnados negros e índios são previamente orientados pelos Pretos Velhos ou Caboclos no plano espiritual, tanto em centros espíritas quanto em centros de Umbanda.
De acordo com a obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, do Irmão X, Jesus se referiu aos negros que viriam ao Brasil, destacando a importância de seus espíritos já purificados, que trariam consigo a mansidão e a humildade. Ele disse: “Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraterno dos habitantes desta terra nova (os índios) e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos espíritos já purificados no sentimento de mansidão e humildade, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas.”
Esses espíritos, já pacíficos e livres do orgulho, foram trazidos para formar o alicerce da solidariedade que caracteriza o povo brasileiro. Assim, Jesus decidiu transplantar seu Evangelho para o Brasil, pois a Europa, com suas culturas radicais e preconceituosas, não era mais capaz de guardá-lo. Ele viu nos índios, com sua cultura primária e sem distorções, e nos negros, espíritos purificados, as condições ideais para perpetuar a mensagem de amor e solidariedade.
Cooperação Evangélica
Esses espíritos, após cumprirem suas missões com Jesus, deram origem às falanges de Pretos Velhos e Caboclos, movidos por puro amor e caridade. Eles sabiam que seus descendentes precisariam de orientação espiritual para encontrarem o caminho de Jesus, exemplificando o perdão e a solidariedade. Em nosso trabalho de esclarecimento, contamos com a valiosa ajuda dos Pretos Velhos e Caboclos, que conduzem espíritos de diversas etnias, colaborando efetivamente no processo de esclarecimento, especialmente em centros de Umbanda onde a educação evangélica ainda é escassa.
A colaboração entre esses espíritos é um trabalho de amor e caridade, onde não é necessário adaptar nossos métodos de trabalho. A Umbanda permanecerá como Umbanda, e o Espiritismo, como Espiritismo, até que um dia, sob a luz do Evangelho de Jesus, tudo se una em harmonia.
Conhecimento Doutrinário
O renomado defensor das obras de Kardec, J. Herculano Pires, em seu livro “Ciência Espírita”, menciona a importância dos espíritos índios e negros no movimento espírita. Ele relata que o orientador do movimento espírita britânico era um índio chamado Sílvio Birch e que, apesar de suas reservas iniciais, ficou impressionado com a sabedoria do Pai Jacó, que, em vidas anteriores, havia sido um médico holandês, mas encontrou verdadeira humildade em sua encarnação como negro.
Herculano também enfatiza que os negros e índios, dotados de humildade e dispostos a aprender, formam uma linha de voluntários que buscam o bem para a humanidade. Essa simplicidade natural, herdada de culturas primárias, é um importante elemento na construção de uma sociedade mais solidária e justa.
Ponte Espiritual
Os espíritas devem prestar atenção a esses ensinamentos, pois a ponte espiritual que une as falanges de Pretos Velhos e Caboclos é fundamental para vencer preconceitos e facilitar o esclarecimento de espíritos de todas as etnias. Essa colaboração mútua também abrirá caminho para uma futura miscigenação material e espiritual.
Que possamos iniciar uma cooperação mais efetiva e fraternal, reconhecendo que todos têm muito a aprender e oferecer. Que a luz do amor e da caridade prevaleça em nossas ações, e que a verdadeira essência do Espiritismo e da Umbanda se una em um único propósito: espalhar o Evangelho de Jesus.
Em uma mensagem deixada por Pai João de Aruanda, durante uma reunião mediúnica, ele nos lembrou que Deus utiliza até nossos preconceitos para curar nossas doenças morais. A verdadeira caridade transcende qualquer barreira e nos transforma em colaboradores do amor divino. Que possamos cultivar essa flexibilidade e unidade em nosso caminho espiritual.
