O Livre Pensar Espírita
O livre pensar espírita é um conceito essencial para aqueles que buscam uma compreensão mais ampla e profunda da Doutrina Espírita. Ao nos posicionarmos como livres pensadores, estabelecemos algumas premissas fundamentais que devem ser consideradas na análise das obras espíritas, especialmente as de Allan Kardec.
1. A Obra de Allan Kardec
A obra espírita é, em sua maior parte, atribuída a Allan Kardec, que exerceu a autoridade de selecionar os textos obtidos por meio do intercâmbio mediúnico. Sua contribuição não se limita apenas à compilação; ele também organizou 32 livros, acrescentando comentários, notas explicativas e introduções, que refletem sua visão e interpretação do Espiritismo.
2. A Identificação dos Espíritos
Os Espíritos Superiores foram “identificados” por Kardec através de um critério pessoal. É importante reconhecer que essa identificação pode estar sujeita a falhas. Portanto, ao abordar as mensagens contidas em suas obras, é crucial não estabelecer premissas imutáveis sobre a natureza dos Espíritos ou a validade das suas mensagens.
3. Erros de Seleção e Construção de Argumentos
Kardec pode ter cometido equívocos ao selecionar mensagens e construir argumentos. Ele aplicou o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos (CUEE), um dos critérios do método que estabeleceu, e, sendo humano, estava suscetível a erros. Por isso, é fundamental não mitificar sua figura ou sua obra, pois isso contraria o espírito da Doutrina Espírita.
4. A Evolução do Conhecimento Espírita
Não há um caráter de permanência nas informações contidas nas obras de Kardec. Embora ele tenha estabelecido princípios considerados como “cláusulas pétreas”, muitos aspectos podem ser reavaliados e ressignificados. É nossa responsabilidade, como espíritas, examinar continuamente as informações e questionar dogmas que podem não resistir ao crivo da lógica e do bom senso.
5. A Necessidade de Análise Crítica
Ao ler as obras de Kardec, devemos adotar uma postura de análise crítica. Nossa leitura deve ser desprovida de vaidade ou prepotência, buscando entender a totalidade da obra, em vez de abordá-la de forma fragmentada. A obra kardeciana é integral e deve ser compreendida em seu contexto completo.
6. A Reinvenção do Espiritismo
As contribuições de Kardec devem servir como ponto de partida para a reinvenção do Espiritismo. É inaceitável considerar revelações mediúnicas posteriores a 1869 como complementares ou substitutivas das doutrinas kardecianas apenas com base na erudição ou autoridade moral dos Espíritos comunicantes.
7. A Limitação da Infalibilidade
Kardec não é infalível. É comum que muitos espíritas se sintam compelidos a defender suas ideias e escritos a qualquer custo. Essa defesa cega pode levar à rejeição de críticas construtivas e ao reconhecimento de possíveis contradições ou erros nas suas obras. A evolução do pensamento humano e social deve ser considerada na interpretação de suas mensagens.
8. A Divinização do Espiritismo
É importante evitar a divinização das questões espirituais. Muitos espíritas tendem a ver a Doutrina como um ponto de chegada, quando, na verdade, ela deve ser encarada como um ponto de partida para novas questões e descobertas. O progresso espiritual é um processo contínuo e infinito.
9. Despojando-se de Certezas
Independente da experiência ou do tempo dedicado ao estudo da Doutrina, é necessário despir-se das certezas absolutas. Kardec nunca afirmou que a Verdade estava completa ou que a obra estava finalizada. Essa mentalidade de infalibilidade pode limitar a compreensão e a evolução do conhecimento espírita.
10. Avançando no Progresso do Espiritismo
Kardec delineou a evolução do Espiritismo em diferentes períodos, estabelecendo uma trajetória histórica e social. Embora tenha identificado os primeiros três períodos, a cronologia proposta pode não corresponder exatamente à realidade atual. Estamos vivendo uma transição entre os períodos religioso e intermediário, em direção a um futuro de regeneração social.
Devemos estar abertos a reexaminar nossas crenças e práticas, reconhecendo que o Espiritismo é uma filosofia em constante mutação. A nova era que se inicia no movimento espírita deve ser acolhida com um olhar crítico e receptivo, permitindo um aprofundamento nas questões espirituais à luz dos princípios eternos da Doutrina Espírita.
Convido todos a refletirem sobre como vivenciam o Espiritismo, desafiando-se a questionar e explorar novas perspectivas. A verdadeira evolução começa quando nos despimos das certezas e nos abrimos para o aprendizado contínuo.
