Origem do Termo “Espiritismo”
O termo “Espiritismo” não foi criado por Allan Kardec, embora muitos acreditem que ele seja o responsável por sua origem. Para entender essa questão, é fundamental analisar a história e o contexto em que a palavra foi utilizada.
Contexto Histórico
A maioria dos espíritas, especialmente no Brasil, considera Allan Kardec o criador do termo “Espiritismo”. Na introdução de “O Livro dos Espíritos”, publicado em abril de 1857, Kardec menciona a necessidade de novas palavras para designar conceitos novos. Ele argumenta que, para evitar confusões que surgem com a multiplicidade de significados das palavras, era importante adotar termos específicos.
A Definição de Kardec
Kardec afirma que as palavras “espiritual”, “espiritualista” e “espiritualismo” possuem significados bem definidos, e que atribuir a elas novos sentidos seria problemático. Ele optou por utilizar os termos “espírita” e “Espiritismo” para designar a nova doutrina que estava emergindo, a qual trata das relações entre o mundo material e os espíritos.
Uma Análise Cuidadosa
Entretanto, ao ler a passagem com atenção, percebe-se que Kardec não afirma ser ele o criador do neologismo “Espiritismo”. Ele simplesmente reconhece que o termo é novo, mas não se atribui a sua invenção. O fato de uma palavra ser recente não significa que foi sua criação; ela pode ter sido utilizada anteriormente, apenas se tornando mais popular através de sua obra.
Referências Anteriores ao Uso do Termo
Pesquisadores identificaram pelo menos três obras que utilizaram o termo “Espiritismo” antes do lançamento de “O Livro dos Espíritos”. A primeira delas é “The Sacred Circle, Volume 1”, de 1855, que menciona o termo “Spiritism” três vezes. A segunda é “The Apocatastasis, or, Progress Backwards: a new tract for the times”, de Chauncey Goodrich Burlington, publicada em 1854, onde o termo aparece nove vezes. A terceira obra relevante é “The spirit-rapper: an autobiography”, de Orestes Augustus Browson, também de 1854.
Implicações da Descoberta
Essas referências demonstram que o termo “Espiritismo” já existia antes de Kardec, o que levanta questões sobre a exclusividade do uso da palavra. Se Kardec não é o criador do termo, isso implica que outras correntes espiritualistas, como a Umbanda e o Candomblé, podem também se autodenominar “espíritas”.
A Questão do “Kardecismo”
Uma outra discussão que surge a partir dessa análise é se as denominações “Kardecistas” e “Kardecismo” são apropriadas. Alguns espíritas argumentam que o uso do termo “Kardecismo” implica que Allan Kardec foi o criador do Espiritismo, o que não é inteiramente correto. Embora Kardec tenha compilado e sistematizado os ensinamentos dos Espíritos, ele também fez contribuições significativas por meio de suas próprias reflexões e seleções.
A Função de Kardec na Doutrina
É importante reconhecer que, embora os Espíritos tenham respondido às perguntas formuladas por Kardec, a seleção do que seria incluído na obra final foi uma decisão dele. Portanto, a influência de Kardec na formação da Doutrina Espírita é inegável, e sua contribuição não deve ser subestimada.
Considerações Finais
Independentemente das nuances sobre a origem do termo “Espiritismo” e a discussão sobre sua denominação, a essência da Doutrina Espírita permanece intacta. O uso anterior da palavra não diminui a importância e a relevância da obra de Allan Kardec na codificação dos princípios espíritas.
O Espiritismo, como doutrina, é respeitado e valorizado por muitos, e a sua capacidade de promover reflexão e transformação espiritual é inegável. Assim, as discussões sobre a terminologia não devem ofuscar o impacto positivo que o Espiritismo teve na vida de muitas pessoas ao longo dos anos.
Referências
- Kardec, A. (2004). “O Livro dos Espíritos”. Trad. J. Herculano Pires. 64. Ed. São Paulo: LAKE.
- The Sacred Circle, Volume 1, acesso em 15 de setembro de 2025.
- The Apocatastasis, or, Progress Backwards: a new tract for the times, acesso em 15 de setembro de 2025.
- The spirit-rapper: an autobiography, acesso em 15 de setembro de 2025.