Alerta de Kardec sobre Política e Repulsa no Movimento Espírita

O Alerta de Kardec sobre Política e a Repulsa à Política no Movimento Espírita

É comum encontrar interpretações distorcidas e restritivas das palavras de Allan Kardec, que levam à ideia equivocada de que os espíritas devem evitar discutir política ou temas controversos em palestras, estudos, conferências e outros ambientes. No entanto, é essencial abordar esses tópicos, pois fazem parte do pensamento filosófico e social que é intrínseco à Doutrina Espírita.

Introdução

Em diversos círculos espíritas, ainda persiste a noção equivocada de que não existe relação entre política e Espiritismo. Essa visão é prejudicial, pois a alienação política serve aos interesses da ideologia dominante, que busca manter controle sobre as massas e perpetuar um sistema que a beneficia.

A Ideologia Rustenista

Nos meios espíritas, essa alienação política se manifesta na chamada ideologia rustenista, originada por J. B. Roustaing, um dos primeiros cismáticos do movimento espírita fundado por Kardec. A influência do rustenismo cresceu no movimento espírita francês após a morte de Kardec e se expandiu para o Brasil, afetando a doutrina e as práticas mediúnicas desde a década de 1930.

O rustenismo trouxe consigo dois aspectos fundamentais que são relevantes para nossa discussão: primeiro, a ideia de que a matéria é inerentemente má, resultando na concepção de encarnação como um erro; segundo, a aceitação inquestionável dos ditados mediúnicos, que contrariam os princípios estabelecidos por Kardec. Essa abordagem dogmática limita a aplicação da filosofia espírita, tornando-a conservadora e alienadora.

A Política Segundo Kardec

O que realmente Kardec pensava sobre política? Para responder a essa pergunta, é necessário examinar algumas citações de suas obras, frequentemente tiradas de contexto e mal interpretadas para “vetar” a política no Espiritismo. A seguir, serão apresentadas suas reflexões sobre a face social e política do Espiritismo, que contradizem as interpretações restritivas.

Kardec observou que os espíritas devem evitar discussões sobre política e questões irritantes que poderiam comprometer o verdadeiro objetivo da doutrina, que é a moral. Ele afirma: “A moral é o essencial; quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente úteis serão a consequência natural.” Essa afirmação não deve ser interpretada como uma isenção completa de envolvimento político, mas sim como um chamado à prudência diante de um contexto social adverso.

O Contexto Histórico

É importante considerar que as obras de Kardec foram produzidas durante a ditadura de Napoleão III, que impôs um controle rigoroso sobre a sociedade. Nesse cenário, as instituições espíritas precisavam adotar uma postura cautelosa para garantir sua sobrevivência. Assim, as advertências de Kardec eram direcionadas a evitar armadilhas políticas que poderiam levar à repressão dos grupos espíritas.

A Filosofia Política no Espiritismo

A filosofia política no Espiritismo não é apenas um tema a ser evitado, mas sim uma parte integrante da doutrina. As obras de Kardec abordam questões como direitos, igualdade social, a opressão do trabalho e a necessidade de reformas sociais. Essa abordagem está presente em diversos trechos de suas obras, que mostram claramente a interface entre a moral e a sociedade.

Por exemplo, Kardec se posicionou contra a escravidão e a desigualdade social, defendendo a emancipação da mulher e a educação universal. Esses temas são fundamentais para a compreensão da doutrina espírita e sua aplicação na sociedade contemporânea.

O Legado de Léon Denis e J. Herculano Pires

Filósofos espíritas como Léon Denis e J. Herculano Pires também contribuíram para essa discussão, ressaltando que o Espiritismo é tanto uma ciência quanto uma filosofia e uma doutrina social. Denis, em suas obras, enfatiza que a solução dos problemas sociais está intrinsicamente ligada à espiritualidade. Pires, por sua vez, argumenta que a abstenção política é uma ilusão anti-espírita, defendendo que o Espiritismo deve se envolver ativamente na transformação social.

Conclusão

A interpretação restritiva das palavras de Kardec em relação à política não se sustenta quando analisamos o contexto histórico e as próprias obras do codificador do Espiritismo. A filosofia política é uma parte vital da doutrina e deve ser discutida abertamente em todos os ambientes, incluindo palestras e estudos. Ignorar essa dimensão é mutilar uma parte essencial da Doutrina Espírita, que busca promover a moral e a justiça social.

Portanto, é fundamental que os espíritas reconheçam a importância de discutir temas políticos e sociais, não apenas como um exercício intelectual, mas como um chamado à ação e à transformação da sociedade, alinhados aos princípios da doutrina que defendem.

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