Compreendendo o Espiritismo através de uma sessão mediúnica

Compreendendo o Espiritismo a partir de um relato de sessão mediúnica

Entre os anos de 1858 e 1869, Allan Kardec publicou, sob sua direção, a Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Esta publicação continha relatos sobre manifestações de Espíritos, incluindo aparições e evocações, além de notícias relacionadas ao Espiritismo. O conteúdo abrangia ensinamentos dos Espíritos sobre o mundo visível e invisível, ciências, moralidade, imortalidade da alma, a natureza do ser humano e seu futuro. Também incluía a história do Espiritismo na Antiguidade, suas relações com o magnetismo e sonambulismo, e explicações sobre lendas, crenças populares e mitologias de diversos povos (KARDEC, 2005, p. 03).

As publicações mencionadas foram traduzidas para o português por Evandro Noleto Bezerra em doze volumes, totalizando quatro mil quinhentas e sessenta e oito páginas, formando um acervo valioso que contribui para o estudo e a compreensão da Filosofia Espírita.

A comunicação mediúnica e a evocação de Espíritos

Neste trabalho, buscamos explorar as dissertações espíritas manifestadas através de comunicações com Espíritos desencarnados durante sessões mediúnicas, fundamentando os textos com elementos que definem a Doutrina Espírita em sua filosofia e estudo. Para tanto, selecionamos a comunicação intitulada “Mãe, estou aqui!”, proveniente da sessão “Evocações Particulares”. Nessa sessão, uma mãe, que havia perdido sua filha de quatorze anos após uma longa e dolorosa doença, se viu inconsolável e decidiu procurar uma amiga que era médium, além do próprio editor da Revista Espírita.

Durante a evocação, a mãe clama pela filha, chamada Júlia, que se comunica por meio da médium presente, utilizando a psicofonia, onde o médium recebe a comunicação do Espírito através da fala, com este atuando sobre o aparelho fonador do médium (CARVALHO, 2021, p. 184).

Provas de identidade e a comunicação espiritual

Ao atender o chamado da mãe aflita, que questiona se o Espírito presente é realmente o de sua filha, a jovem desencarnada revela seu apelido familiar, “Lili”. Essa é uma das maneiras que os Espíritos utilizam para comprovar sua identidade, apresentando informações que validam seu reconhecimento entre os que recebem a comunicação. Como explicado em O Livro dos Médiuns, os Espíritos oferecem provas irrefutáveis de sua identidade, revelando-se através de sua linguagem, palavras familiares e detalhes específicos de suas vidas, que muitas vezes são desconhecidos pelos assistentes e cuja veracidade pode ser confirmada (KARDEC, 2023, p. 227).

O diálogo prossegue entre a jovem desencarnada e a emocionada mãe, que não consegue ver a sua querida Júlia. Ao colocar as mãos sobre a médium, o Espírito desencadeia o processo de psicografia, ou seja, a escrita dos Espíritos por meio da mão de um médium, apresentando mais uma evidência da veracidade da comunicação: a semelhança da caligrafia. Assim, a semelhança na escrita e na assinatura também é considerada uma prova de identidade (KARDEC, 2023, p. 228).

A relação entre o corpo e o perispírito

Impressionada com os detalhes que a filha desencarnada compartilha, a mãe questiona se Júlia possui um corpo. Embora a Espírito não tenha mais um corpo físico, mantém uma aparência através das propriedades do perispírito, um corpo fluídico que envolve os Espíritos desencarnados. Esse invólucro semimaterial pode se manifestar de maneiras diversas, conforme a vontade do Espírito, podendo assumir formas visíveis e até palpáveis (KARDEC, 2022, p. 76).

No relato em questão, os sonhos são uma forma que o Espírito Júlia encontrou para se comunicar com a mãe, oferecendo consolo e inspiração, mesmo que isso possa parecer uma mera lembrança ou fruto da imaginação da encarnada. A Doutrina Espírita elucida a relação entre a libertação da alma e o corpo físico, permitindo uma emancipação parcial, onde os laços entre a alma e o corpo se afrouxam, possibilitando uma comunicação mais direta com outros Espíritos. Essa condição permite experiências de aprendizado e interações no mundo espiritual, ampliando nossa compreensão sobre a vida após a morte (KARDEC, 2022, p. 176-178).

Conselhos e a evolução espiritual

Ademais, o Espírito da filha desencarnada oferece conselhos à mãe sobre um conhecido, mas não pode revelar detalhes sobre o futuro, uma vez que “o futuro lhe é oculto, e só em casos excepcionais permite Deus que seja revelado” (KARDEC, 2022, p. 309). A jovem explica que ainda está distante das perfeições angelicais e que deve adquirir as qualidades que ainda lhe faltam em futuras reencarnações em nosso planeta, que é um local de provas e expiações.

Através desse relato, fica evidente o quanto a Doutrina Espírita se revela consoladora, pois a possibilidade de comunicar-se com os Espíritos proporciona um alívio profundo, permitindo que os entes queridos que partiram se aproximem, ouçam e respondam às nossas inquietações. Essa conexão extingue, em certa medida, a separação entre os vivos e os mortos, possibilitando um intercâmbio emocional que nos traz conforto e esperança. A certeza de um reencontro futuro com aqueles que amamos é uma das grandes forças que sustentam a fé espírita (KARDEC, 2022, p. 338).

Assim, a comunicação mediúnica nos revela importantes diretrizes da Filosofia Espírita, evidenciando a eficácia da evocação do Espírito desencarnado, os recursos da psicofonia e psicografia, e a influência da Espiritualidade em nossas vidas, mostrando que a vida continua de forma palpável e relevante além da morte.

Referências

1 – CARVALHO, Evelyn Freire de. O que é a Casa Espírita. Série Conhecendo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora Letra Espírita, 2021.

2 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Letra Espírita, 2022.

3 – KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 1ª Ed. Campo dos Goytacazes: Editora Letra Espírita, 2023.

4 – KARDEC, Allan (org). Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Brasília, vol.1, p.3, abril de 2005.

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