Delírios Sobre Espíritos
Desde o início do dia, sinto-me tonto, deve ser alguma energia espiritual negativa.
Precisamos de cura espiritual; minha família está assediada por espíritos malignos.
Os espíritos não me deixam dormir. Não consigo descansar.
Não consigo lembrar quantas vezes ouvi ou li preocupações comuns como essas. É sempre surpreendente como o sobrenatural está entrelaçado nas vidas dos espíritas, especialmente no Brasil. Quando questionei amigos brasileiros, eles geralmente se tornavam defensivos. Eles não conseguem perceber que o que chamam de ‘interação com o além’ soa como ingenuidade para uma pessoa objetiva? Por que pessoas que parecem tão preparadas se tornam tão aceitas a essa realidade paralela em suas vidas? De forma alguma isso é uma crítica; para mim, é uma simples constatação.
Eu tenho interesse nas ideias espíritas e sua concepção de cristianismo, mas sendo de uma cultura diferente, isso me parece deslocado. De certa forma, essas preocupações ressoam em mim, lembrando-me das inquietações sobre o diabo e sua trupe, com as quais padres e pastores têm doutrinado seus seguidores desde tempos imemoriais, mesmo antes do início do cristianismo.
Como americano, minha personalidade é definida por um profundo senso de independência, autossuficiência, responsabilidade pessoal e estima pelo pensamento objetivo. Fui criado em uma família de universalistas unitários, com uma avó que amava Ralph Waldo Emerson, e foi dela que aprendi que ‘o propósito da vida é a transformação espiritual e a experiência direta do poder divino, aqui e agora na Terra’.
De forma alguma desmereço a ideia de que um espírito odioso e ignorante pode estar na raiz de alguns distúrbios psiquiátricos complexos ou atuar em alguns casos de dependência química, mas, em minha visão, esses são síndromes anormais. No entanto, a ideia de que estamos cercados por espíritos capazes de facilmente atropelar nossa livre vontade e violar a barreira energética que separa os diferentes reinos à vontade é, para mim, uma proposta irracional.
A Nova Abordagem do Espiritismo
Aqui está minha sugestão para aqueles que assumiram a tarefa de promover o pensamento espírita na anglosfera: concentrem-se menos nas almas sombrias e doentias do reino espiritual e eliminem palavras como possessão espiritual, obsessão, entidades controladoras e seres vingativos em palestras e tratamentos de cura. Em vez disso, direcionem mais atenção ao que realmente importa para a eternidade de uma pessoa, que é a transformação interior, o cultivo do pensamento positivo, ser uma boa pessoa e viver com gratidão.
Líderes espíritas em suas comunidades não devem se desviar da sabedoria já revelada na literatura seminal, mas os tempos podem exigir a adoção de novas ferramentas que fazem parte do repertório moderno para a consciência espiritual: meditação, yoga, mindfulness, tai chi, oração contemplativa e qualquer outra forma de atividade meditativa.
Essas são ferramentas que, juntamente com todas as outras utilizadas nas atividades espíritas, ajudarão os praticantes de hoje a reeducar suas mentes, mudar comportamentos e crenças negativas, e ouvir a voz interior que inspira a verdadeira transformação.
Reflexões sobre o Medo e o Amor
Embora possa ser fácil culpar o desconhecido por desventuras em nossas vidas, essa preocupação com assuntos ocultos, muitas vezes, sufoca nossas vidas com medo. Para simplificar, lembre-se: “O amor é mais forte que o medo.” (1 João 4:18)
Comentários e Interações
Um comentário interessante foi feito por uma colaboradora, que afirmou: “Os espíritas com quem colaboro absolutamente concordam em focar mais na transformação interior, no cultivo do pensamento positivo, em ser uma boa pessoa e viver com gratidão.” É importante reconhecer que haverá algumas pessoas que se concentram no medo e se absorvem na negatividade, independentemente da fonte. Mas isso é verdade tanto para universalistas unitários quanto para espíritas. Parece ser uma condição humana.