A Filosofia Espírita é Incompleta
A filosofia espírita apresenta uma notável lacuna ao não incluir a “revisão de vida” como um elemento comum e documentado do processo de morte. Essa omissão levanta a questão: será que a filosofia espírita está incompleta? Em artigos anteriores, foi observado que nenhuma das obras de Allan Kardec, nem a vasta literatura de escrita automática de Chico Xavier, descreveu um único caso de revisão de vida. Essa ausência é especialmente alarmante considerando a frequência com que esse fenômeno ocorre na maioria das experiências de quase-morte relatadas nos últimos 40 anos. Mentes curiosas podem se perguntar por que esse fenômeno importante está ausente. Teria sido devido às limitações dos médiuns, a um constrangimento cultural inconsciente ou a uma decisão dos mentores de adiá essa revelação para o futuro?
É natural que muitos leitores fiquem horrorizados com a ideia de que o corpo de ideias que define a filosofia espírita esteja incompleto. Outros podem não se preocupar com tal anomalia, pois estão satisfeitos com o que aprenderam. No entanto, alguns, esperançosamente, olharão para essa anomalia com um olhar crítico, dispostos a colocar em prática o preceito de Allan Kardec de que “a única fé inabalável é aquela que pode resistir à razão, face a face, em cada estágio do desenvolvimento da humanidade.”
O Fenômeno da Revisão de Vida
Um exemplo de revisão de vida fala de maneira convincente às nossas crenças: “De repente, minha vida inteira passou diante dos meus olhos, completa em todos os detalhes. Cada evento e cenário que ocorreu durante minha vida estava lá para eu examinar, e tive a oportunidade de scrutinizar cada parte dela. É impossível dizer quanto tempo a revisão realmente durou. A revisão inteira parecia ter durado apenas um segundo, porque todos os eventos da minha vida foram mostrados para mim simultaneamente. No entanto, eu estava livre para examinar cada parte da minha vida, peça por peça, até o mais fino detalhe. O tempo era subjetivo e a distância não existia, porque eu estava em todos os lugares ao mesmo tempo. Quando minha atenção era direcionada a uma situação ou conjunto de circunstâncias, lá estava eu, já experimentando o momento. Em outras palavras, eu literalmente vi cada último detalhe da minha vida, comprimido em um segundo.”
“Não apenas revisei minha vida do meu próprio ponto de vista, mas também da perspectiva de outros com quem me conectei em vários momentos e lugares. Agora eu sabia exatamente o que as pessoas estavam pensando e sentindo sobre mim. Cada vez que feri alguém, senti sua dor. Agora eu senti os resultados de todas as minhas palavras e ações prejudiciais; eu podia literalmente perceber cada pensamento e sentimento em resposta a mim, o que era absolutamente horrível. Por outro lado, cada vez que fui gentil ou sempre que ajudei pessoas ou trouxe felicidade a elas, senti sua alegria e apreciação.”
“Mas não houve injustiça alguma na minha revisão de vida, pois eu podia ver que era o arquiteto de todas as minhas ações e o mestre de todas as minhas virtudes e vícios, assim como todos nós somos.”
A Evolução da Filosofia Espírita
A filosofia espírita é incompleta da mesma forma que nos referimos a Newton, Einstein e à mecânica quântica como exemplos da modificação de uma teoria existente. Newton não estava errado; ele apenas não tinha informações suficientes. Suas ideias ainda se sustentam quando as aplicamos a uma maçã caindo. Da mesma forma, o trabalho de Einstein não foi derrubado pela descoberta da mecânica quântica. Cada uma dessas novas ideias simplesmente acrescentou ao que já aprendemos. As teorias de Newton e Einstein não estão erradas, mas não se aplicam a todas as situações. Isso ocorre porque os cientistas não tinham informações suficientes para expandir a teoria no momento em que foi formada.
A filosofia espírita não possui uma estrutura centralizada no modo católico ou anglicano que estabeleça rituais e crenças. O espiritismo não tem hierarquia ou liderança formal. Ele evolui com as pessoas, as experiências dos praticantes e com a cultura que cerca seus centros de prática. Aceita a evolução como norma e a transformação como parte de seu crescimento natural. Contudo, embora todas essas representações sejam aspirações, a filosofia espírita depende da iniciativa e coragem das pessoas para debater abertamente novas ideias, confiando em evidências objetivas.
A Nova Era das Experiências de Quase-Morte
A mediunidade tem sido documentada há mais de 150 anos como a principal ferramenta de comunicação entre dimensões. Enquanto houve alguns médiuns muito confiáveis, como Francisco Xavier, Edgar Cayce e Divaldo Franco, a maioria dos médiuns é uma ferramenta de conforto espiritual, em vez de provedores de evidências irrefutáveis. O objetivo da filosofia espírita, desde o início, foi fornecer provas da continuidade da vida e demonstrar que os seres humanos possuem uma alma que existe, transcendendo a vida do corpo.
Estamos agora testemunhando o desenvolvimento de uma nova ferramenta para demonstrar a existência da consciência (espírito ou alma) por meio dos extensos dados coletados por cientistas médicos que estudam experiências de quase-morte (EQMs). A possibilidade de trazer de volta uma pessoa clinicamente morta por mais de trinta minutos ampliou as fronteiras entre vida e morte, alterando nossa abordagem à vida na Terra. Ao reconhecermos as experiências de quase-morte como um fato, segue-se que a filosofia espírita está incompleta. É fundamental aceitarmos esse fato e não rejeitá-lo.
Experiências de quase-morte altamente específicas e detalhadas e a medicina de ressuscitação fornecem evidências inquestionáveis da sobrevivência da consciência e, por extensão, da continuidade da vida além da morte. À medida que a ciência e a tecnologia evoluem, outras ferramentas se tornarão disponíveis, revelando ainda mais sobre a experiência da morte, e devemos estar abertos a todos esses fatos. Não podemos continuar a depender apenas da mediunidade clássica quando outros instrumentos poderosos fornecem evidências mais robustas e avançadas. A filosofia espírita é incompleta, e esse fato se alinha perfeitamente com o design e funcionamento do Universo. Afinal, não é esse o propósito de toda a empreitada espiritual que tem Jesus à frente: nos ajudar a despertar para nossa realidade intrínseca como almas que habitam temporariamente um corpo físico em nossa eterna jornada de evolução em direção a Deus?
