O Espiritismo e a Busca por Sentido em Tempos de Crise Existencial
Nunca antes na história da humanidade os índices de suicídio foram tão alarmantes quanto atualmente. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 700 mil pessoas perdem a vida anualmente devido ao suicídio, o que equivale a uma em cada 100 mortes registradas. Esse fenômeno é ainda mais preocupante, pois os casos estão crescendo entre crianças e adolescentes, evidenciando a gravidade da situação. Diante dessa busca incessante por preencher o vazio existencial, muitos indivíduos recorrem a prazeres efêmeros, como o sexo, a dependência química, o trabalho excessivo e a validação nas redes sociais, na tentativa de enfrentar a dor interna.
Como observa Franco (2014), “na atualidade, não obstante o sexo constitua um paradigma de comportamento essencial, a sua satisfação aligeirada continua destituída de significado profundo, que permita o equilíbrio das emoções e a segurança afetiva.” A troca desenfreada de parceiros na busca por variedade, em vez de proporcionar satisfação, resulta em frustração. Essa dinâmica ilustra que o ato sexual, muitas vezes visto como uma libertação dos tabus do passado, se revela apenas um modismo social que carece de um verdadeiro significado.
É comum perceber, especialmente entre os jovens, uma profunda falta de sentido na vida, levando-os a buscar significado em mídias digitais, jogos viciantes e substâncias cada vez mais nocivas. Essa busca por gratificação momentânea se desfaz rapidamente, resultando em um ciclo de insatisfação que exige sempre mais. “Em tentativas inúteis de preencher esse vazio, elaboram-se as festas alucinantes, volumosas, arrastando as multidões desassisadas e ansiosas, que se esfalfam no prazer anestesiante, para depois despertar no mesmo estado de vácuo interno,” afirma Franco (2014).
Diante desse contexto, muitos indivíduos, ainda lutando com conflitos internos e valores deteriorados, preferem se refugiar em escapismos psicológicos a enfrentar as dificuldades que surgem. Essa resignação se torna um mecanismo de autodefesa, resultando em um grande vazio interior. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na questão 909, questiona como o homem pode superar suas más inclinações e responde que é possível, enfatizando que “frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade.” (KARDEC, 2022, p. 325).
A importância da vontade é crucial nesse processo, pois nenhuma dor é em vão; sua presença é uma oportunidade para aprendizado e crescimento. A Doutrina Espírita, ao abordar a reencarnação e a Lei de Causa e Efeito, oferece consolo e suporte para que possamos enfrentar o sofrimento com resignação e humildade, conforme os ensinamentos de Jesus. Ao preencher o vazio existencial com amor por si mesmo e pelo próximo, podemos nos tornar vencedores.
Aqueles que se sentem vazios e perderam a identidade em sua busca por objetivos significativos enfrentam um processo doloroso de desgaste emocional. No entanto, a perda do “Eu” pode ser resolvida por meio de uma mudança na atitude racional e emocional em relação às oportunidades da vida. A fé religiosa, o sentimento de humanidade e o respeito social se tornam referências valiosas que estimulam o indivíduo a manter o significado psicológico interior.
Considerando que a existência física é apenas um capítulo diante da eternidade da Vida Espiritual, o Espírito pode acessar sua consciência, onde estão inseridas as Leis Divinas, descobrindo suas potencialidades, dificuldades e qualidades. O autoconhecimento e a busca pela melhoria contínua diante das novas experiências são fundamentais. Por meio de práticas como meditação, oração e participação em grupos de estudos, o Espírito estabelece comunicação com Entidades Benfeitoras que o assistem e orientam em decisões importantes.
Quando em uma sintonia elevada, a capacidade de captar orientações do Alto aumenta, reduzindo as chances de erro, pois estamos alinhados ao bem. Além disso, os transtornos e doenças mentais, como depressão e fobias, emergem com frequência na sociedade atual e requerem atenção. O atendimento psicoterápico e psiquiátrico é essencial para que o indivíduo encontre recursos que o ajudem a superar esses desafios.
Juntamente a isso, o tratamento espiritual nas Casas Espíritas, através de conversas fraternas, passes e fluidoterapia, pode ser extremamente benéfico para o processo de cura. É vital que aqueles que se sentem fragilizados e enfrentam doenças emocionais busquem ajuda, sem vergonha ou medo de serem vistos como fracos. Ao compartilhar nossos problemas, encontramos, por meio do outro, as soluções que tanto buscamos internamente.
Referências:
FRANCO, Divaldo. Conflitos Existenciais, ditado pelo Espírito de Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2014.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2022.