Pandemias e a Vontade de Deus em Tempos Difíceis

Pandemias e a Vontade de Deus

Nos tempos extraordinários que vivemos, comentários religiosos se tornaram comuns: “Ninguém morre antes da hora”, “Deus está no controle”, “Jesus é meu desinfetante” e “Nos planos de Deus, nada acontece por acaso”. Essas afirmações são proferidas por pessoas de diversas tradições religiosas. Por um lado, elas representam expressões de fé, fervor religioso e confiança em um poder Superior. Servem para confortar e oferecer esperança, proporcionando orientação e representando um solo firme para os crentes. Assim, ninguém questiona seu valor. Por outro lado, se refletirmos sobre elas com um pouco de pensamento crítico, essas afirmações desafiam o conceito de Deus que muitos têm adotado.

Atualmente, estamos vivenciando a expansão dramática do vírus Covid-19 nos EUA, resultando na trágica morte de muitas pessoas. O vírus foi detectado em quase todos os países e em quase todas as grandes cidades do planeta. A cobertura da mídia traz a pandemia para perto de todos nós, e o mundo está paralisado diante das possibilidades horríveis. Globalmente, as pessoas estão adotando novos comportamentos e aprendendo a viver em uma nova realidade. Mas qual é o papel de Deus nisso tudo?

A Visão Tradicional de Deus

Se alguém acredita em um Deus que controla cada evento da existência humana, decidindo quem contrai uma doença, quem morre e quem sobrevive, então Deus tem tudo a ver com isso. No entanto, nossa compreensão do papel divino muda quando damos um passo para trás, afastando-nos dos medos do momento. Ao observamos alguns pontos da nossa história, podemos entender a relatividade de nossas visões. Por exemplo, a tuberculose, uma pandemia prolongada no século XX, é estimada em ter matado 300 milhões de pessoas em todo o mundo. A gripe espanhola de 1920 é calculada em ter causado a morte de mais de 50 milhões de pessoas. A Grande Fome Chinesa de 1958-61, por sua vez, resultou na morte de mais de 40 milhões de pessoas.

É importante também considerar que a população da Terra cresceu de 1 bilhão em 1900 para aproximadamente 7 bilhões em 2000. A noção de que Deus faz decisões micro sobre as vidas de cada pessoa é difícil de sustentar. Será que Deus criou intencionalmente as bactérias que causam a tuberculose, o vírus da gripe ou os desastres naturais que causaram a fome?

Avanços da Medicina e a Transformação da Vida

Hoje em dia, com a gestão clínica e de saúde pública adequadas, a tuberculose é 100% curável. A medicina moderna entende o vírus da gripe, que foi descoberto pela primeira vez em 1933, e com vacinas e boas práticas de higiene, as taxas de fatalidade foram reduzidas a menos de 1% das infecções. Além disso, a China se tornou uma potência industrial e militar, capaz de alimentar sua população, que dobrou de tamanho desde a época da fome.

Esses três exemplos compartilham um padrão comum: a existência humana na Terra está em um contínuo estado de transformação e progresso. Eles demonstram que a vida dos seres humanos é animada puramente pelo crescimento. Em um sentido mais profundo, a vida, em todas as suas expressões, é premida pela transformação. Se estendermos o significado da palavra “vida” para incluir a vida da alma, a centelha eterna, é fácil concluir que a alma também está em uma jornada contínua de transformação, seja vivendo temporariamente na carne ou não.

A Perspectiva Espiritual

Dentro ou fora da carne, a alma está crescendo, aprendendo e mudando em direção a um propósito que pode não compreendermos plenamente, mas que pensadores sábios chamaram de realização. Estamos no caminho da realização em Deus. Se olharmos para a vida apenas sob a perspectiva do corpo material e de seus sentidos, as questões sobre a morte por doenças contagiosas, câncer ou fome não têm respostas satisfatórias. Contudo, sob a perspectiva do espírito, do ser eterno, todas essas experiências servem a um propósito maior e mais sábio. E, um dia, cada um de nós olhará para trás e ficará maravilhado com a sabedoria que moldou silenciosamente nossa jornada.

Reflexão Final

As pandemias e as crises que enfrentamos podem gerar angústia e incerteza, mas também nos convidam a refletir sobre o significado mais profundo da vida e da nossa conexão com o divino. Ao considerar a história e os avanços que a humanidade conquistou, encontramos esperança e um sentido de que estamos sempre em evolução, mesmo em meio a desafios. Essa perspectiva pode nos ajudar a encontrar consolo e força durante os momentos mais difíceis.

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