A Vida Após a Morte Sob Novas Perspectivas
A interpretação que escritores fazem do que veem e experienciam é amplamente influenciada pelo seu tempo e cultura, moldando assim sua visão da realidade. Neste contexto, dois escritores espirituais talentosos compartilham suas experiências sobre a vida após a morte, com mais de 50 anos de diferença entre eles. André Luiz, um brasileiro que começou a escrever na década de 1940 sobre suas vivências espirituais, e Ricardo Petrillo, um americano que documentou suas experiências mais recentes em “Uma Jornada da Alma”, publicado em março de 2020.
André Luiz e seu legado espiritual
André Luiz, pseudônimo de um espírito que teve uma carreira médica em sua última encarnação, viveu no Rio de Janeiro no final do século XIX, conforme as datas inferidas de suas obras. O médium F.C. Xavier, que residia em uma pequena cidade rural no Sul do Brasil, recebeu por meio da escrita automática uma série de mais de dez livros, sendo o último publicado em 1970. Se André Luiz estivesse vivo hoje e escrevendo através de um médium diferente, como ele contaria as mesmas histórias sobre a vida no além? A resposta a essa pergunta reside na cultura, que inclui o conhecimento, a religião, os valores e os hábitos que moldaram a perspectiva de vida tanto dele quanto de seu médium.
A perspectiva de Ricardo Petrillo
Em contraste, Ricardo Petrillo, nascido e criado no nordeste dos Estados Unidos, voltou à vida espiritual em 2005, aos 20 anos, pertencendo à geração Y. Como um jovem que escreve do além, através de um médium altamente educado, ele apresenta suas experiências de maneira distinta. As diferenças, que naturalmente existem, são em grande parte influenciadas pelas mudanças sociais e culturais. Entre 1970 e 2005, o mundo passou por transformações significativas, com o advento da internet e a globalização.
Contraste de valores entre épocas
É interessante contrastar os valores que definiram as décadas de 1960 no Brasil e 2020 nos Estados Unidos. Na década de 1960, o Brasil era marcado pelo catolicismo conservador, homofobia, moralidade vitoriana, proibição do divórcio, ilegalidade do aborto e uma sociedade onde as mulheres eram predominantemente donas de casa. Em contrapartida, os valores da década de 2020 nos EUA incluem liberalismo cristão, casamento entre pessoas do mesmo sexo, libertação sexual, divórcio sem culpa, direitos das mulheres e igualdade racial, além da aceitação de relações sexuais antes do casamento e a presença de tecnologias como aprendizado pela internet e telefones móveis.
A narrativa de “Uma Jornada da Alma”
No livro “Uma Jornada da Alma”, Ricardo Petrillo cria uma obra de exploração e autodescoberta que se foca em sua jornada no além. Ele narra suas experiências em primeira pessoa após recuperar sua plena consciência como espírito. De muitas maneiras, seu estilo de relato é semelhante ao de André Luiz; no entanto, a diferença de mais de 70 anos entre eles traz nuances distintas às suas narrativas.
Observações distintas sobre o além
Considerando que o tempo e o ambiente desempenham papéis cruciais na formação da visão de uma pessoa sobre a realidade, é interessante comentar algumas diferenças notáveis nas observações feitas pelos dois. Por exemplo, André Luiz relata a existência de fortalezas e castelos nas zonas inferiores, estruturas típicas da Europa antiga, raramente vistas nas Américas. Por outro lado, Ricardo Petrillo descreve os edifícios como estruturas convencionais e não descritivas, comuns nas cidades modernas, mantendo a função de ajudar almas resgatadas.
Outra diferença significativa é a descrição dos modos de transporte para os pacientes. Enquanto André Luiz menciona o uso de cães, animais de tração e aves de rapina, Petrillo se refere apenas ao uso de uma maca manobrada por assistentes. Ambos, no entanto, aludem à presença de centros de defesa localizados em torres altas, com Petrillo explicando que a torre possui janelas diferentes que ressoam energeticamente com várias dimensões de sofrimento, permitindo ao observador focar sua visão nessas dimensões.
Concepções sobre as zonas inferiores
A concepção de André Luiz sobre as zonas inferiores reflete, em detalhes impressionantes, a visão tradicional de inferno promovida pela Igreja e o purgatório descrito por Dante, sendo representados como lugares físicos adjacentes à crosta terrestre. Em contrapartida, Ricardo Petrillo transmite uma visão mais sutil e menos sombria das lutas daqueles que se desviaram do caminho certo, focando em seus estados de consciência.
Recuperação e reabilitação no além
Um aspecto que merece destaque é a situação de pessoas que passaram longos períodos na Terra com deficiências motoras ou intelectuais. André Luiz explica que, após deixarem seus corpos, esses espíritos rapidamente recuperam suas capacidades normais e, após um breve período de adaptação, retomam suas vidas no plano espiritual. Em contrapartida, Ricardo Petrillo oferece uma visão mais profunda sobre o processo de readaptação, descrevendo o trabalho de várias instituições que auxiliam os espíritos em sua reintegração, detalhando uma série de exercícios e atividades que eles realizam para gradualmente recuperar ou reaprender como funcionar no plano espiritual.
Reflexões sobre a evolução das visões espirituais
Ao comparar as obras de Petrillo e André Luiz, podemos observar como o tempo e a cultura influenciam a visão dos escritores e sua interpretação do que veem e experienciam. Um escritor escreve para seu tempo, e os espíritos não escapam dessa realidade. Suas percepções e ideias são moldadas pelo ambiente e cultura de sua época. À medida que novas gerações de escritores espirituais começam a compartilhar suas novas perspectivas, nossa compreensão sobre a vida no além ganhará novas cores e interpretações.